Dando continuação a O Pacto (ver aqui), este romance conta-nos a história de Anna e Peter, já depois de abandonarem o centro de Excedentes onde se viam aprisionados.
Como forma de se sustentarem, pois estão inseridos numa sociedade marcada pela escassez de recursos, mas também como forma de colaborarem com a Resistência (organização secreta destinada à luta contra a longevidade e as políticas anti-natalidade vigentes no século XXII), Peter decide trabalhar nos laboratórios do avô (Richard Pincent), o possuidor da maior cadeia farmacêutica de medicamentos de longevidade. Aqui, Peter vai ter que silenciar todo o seu desagrado perante a produção massiva de fármacos que contrastam com os seus ideais, colaborando nas pesquisas. Sem se aperceber, começa a levar uma lavagem cerebral, pois o seu avô, uma pessoa determinada e sem escrúpulos quer por força que o seu neto assine o pacto. Para isso, vai-lhe falando de uma forma aliciante acerca de todas as vantagens de uma vida infinita, manipulando-o, tanto a ele como a Anna.
Ao mesmo tempo, Anna é raptada por um grupo de Caçadores que a levaram a acreditar que queriam ajudar a libertar excedentes, de modo a testarem a sua verdadeira identidade. Como se dispôs a ajudar, foi levada para os laboratórios de Richard Pincent, de modo a ser usada como cobaia para produção de células estaminais.
A todas estas peripécias, é ainda acrescentado Jude, o meio-irmão de Peter que o espia e decide finalmente ajudar a libertar-se do seu problema.
Assim, o romance acaba quando Peter decide manter a sua posição perante a Longevidade, rebeliando-se numa conferência de imprensa que Richard marcara para este assinar o Pacto. Com a ajuda do seu meio-irmão e de outros colaboradores da Resistência, Peter encontra Anna e ao analisarem os exames médicos que lhe haviam feito para saberem se podia participar nas ditas experiências, descobrem que esta está grávida. Assim, Peter e Anna acabam por fuir para o campo, onde decidem passar a viver e onde esperam pelo nascimento do seu filho.
É um livro muito interessante e que, mais uma vez, nos assalta a consciência, fazendo-nos refletir acerca da durabilidade da vida e do direito que temos sobre ela, até que ponto a podemos manipular.
Porque gosto de ler...
Recomendo!
Tudo começa quando um homem cega enquanto está parado no semáforo,em pleno trânsito. Depois de ser ajudado a chegar a casa por um desconhecido e de ter estado com a mulher, que o decide levar ao oftalmologista, apercebe-se que quem o ajudara lhe roubara o carro. Depois de o médico o ter observado, este continua a atender os outros pacientes que esperam. O médico apercebera-se da estranheza do caso do seu paciente, em que a cegueira, ao invés de se manifestar negra, aparece como branco como se só houvesse luz, que impedisse a visão, continua a pesquisar, comunicando as suas preocupações aos responsáveis da saúde no país. Passado um pouco percebe que também está cego e que esta cegueira é contagiosa, tentando afastar-se da mulher, como medida de precaução, coisa que esta recusa.
Entretanto, as autoridades, como modo de pararem o contágio, que já se manifestara também nos pacientes que o Médico havia tratado depois, nomeadamente, um velho com uma venda preta, que sofria de cataratas, uma prostituta, que usava óculos escuros e tinha conjuntivite e um menino estrábico, decidem isolar os contagiados em quarenta provisória, de modo a pararem o "mal branco", encerrando estes doentes num antigo manicómio. Mesmo sem ter cegado, a mulher do médico finge-se contagiada para poder ficar junto do marido. Assim, vai chegando cada vez mais gente ao antigo manicómio, notando-se a escassez de alimento, assim como a falta de cuidados e de higiene que só a mulher do médico podia viver. Assim se passam os dias neste alojamento de cegos, em que as pessoas se vão agrupando, consoante os sítios onde se estabeleciam para dormir. Desta forma, cada grupo vai fazendo por si e pela subsistência, uma vez que as necessidades básicas como alimentação, se vão fazendo sentir, começando tentar liderar no manicómio vendendo o pouco alimento que havia em troco de bens pessoais. Mais tarde, quando ninguém tem bens para trocar por comida, o grupo que lidera o manicómio, constituído exclusivamente por homens começa a exigir favores sexuais. Depois de as mulheres terem sido submetidas ao limite da dignidade humana, a mulher do médico revolta-se e mata o chefe do grupo, de modo a restituir um pouco mais de justiça àquele lugar, onde a própria justiça já era uma utopia. Mesmo assim, continuam sem o direito à comida e uma mulher decide pegar fogo à camarata onde estes estavam. Com o alastra do incêndio, os cegos vêm-se forçados a sair daquele lugar inóspito, não encontrando, para seu espanto, oposição à saída.
É neste momento que percebem o cúmulo de todo aquele cenário monstruoso. A rua, a cidade, tudo se tinha transformado num caos, onde cegos viviam na rua, que por sua vez se encontrava inundada de lixo e de dejetos, causados pela putrefação deixada pela falta de cuidados e higienização sofridos. Decidem então criar um grupo coeso, de modo a não se perderem e a poderem orientar-se com a ajuda da mulher do médico, até chegarem às suas casas. Este grupo é constituído pelo médico e a mulher, o primeiro cego e a mulher, o velho da venda preta, a rapariga dos óculos escuros e o menino estrábico.
Dirigem-se então à casa do médico, suficientemente espaçosa para albergar todos. Antes disso, a mulher do médico tinha procurado comida, entrando num supermercado, mas até aí toda a comida havia esgotado. Então lembra-se de ir ao armazém do supermercado e encontra a reserva de conservas que leva para alimentar o grupo que d certo modo sustenta. Quando mais tarde volta para buscar mais comida, percebe que o armazém fora descoberto por cegos famintos, estando preenchido por corpos mortos em avançado estado de decomposição. Ao regressar a casa para numa igreja onde todos os santos têm vendas nos olhos. Dando alerta de tal situação, as pessoas fogem daquele lugar desesperadas e aí, a mulher do médico consegue obter um pouco de comida. Depois de regressar a casa, todos jantam e ouvem a mulher do médico ler para poderem alimentar a alma. Passado um pouco, o primeiro cego deixa de "ver" tudo branco, e com os olhos fechados vê tudo preto. Pensando que contraíra a cegueira comum, manifesta-se, mas ao abrir os olhos percebe que já vê. Num ambiente de euforia, cada um recupera a esperança de voltar a ver. Depois de uma noite passada em claro e depois de o recuperar gradual da visão, esta torna-se numa realidade próxima. Então, as pessoas saem à rua para assistir aos brados de "Vejo!" e a mulher do médico olha para o céu vendo tudo branco, consciencializando-se que chegara a sua vez de cega. Invadida por uma vaga de medo, volta os olhos para baixo e apercebe-se que ainda vê.
É assim que termina este romance. Dotado de uma grade criatividade, o autor consegue usar a melhor metáfora para caracterizar a humanidade: a cegueira. Como é que não nos podemos considerar cegos? Os mais fortes não olham a meio para atingir os fins; as autoridades não vêem (ou fingem não ver) a forma como o pode é exercido; e os mais fracos não reparam nas formas como são comprados, deixando-se seduzir pelas vantagens a curto prazo. Como é que não somos cegos, pergunto-me mais uma vez. Como mote deste livro temos a citação "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." e a sabedoria popular diz-nos que "O pior cego é aquele que não quer ver" e assim fica nítido que somos realmente cegos. Com capacidades para olhar, ver e reparar, cegamos perante as pequenas coisas que existem, não mudamos em nada as nossas ações para que o mundo deixe de estar no estado caótico em que se encontra. Não digo que se viva o mesmo caos descrito no romance, mas antes um caos psicológico em que a nossa cegueira não nos deixa usar a lucidez para guiarmos as nossas vidas.
Como mensagem principal deste romance, acho que o autor pretendeu dizer para abrirmos os nossos olhos, não só numa visão egocentrista, mas sim para tudo o que nos rodeia. Porque um pequena passo, dado por uma grande sociedade, pode se traduzir na melhoria da qualidade de vida da humanidade.
E porque gosto de ler...
Recomendo!
Para começar este blog, decidi apresentar em primeiro lugar este livro, da autoria de Gemma Malley.
A ação decorre durante o ano de 2140, altura em que a ciência já tinha alcançado a imortalidade. Para esta ser possível, as pessoas tem que renunciar à sua descendência, assinando um acordo, o Pacto. Assim, todas as crianças que nascerem depois do Pacto, são consideradas excedentes. São mandadas para centros onde os formam e lhes dão uma educação com vista ao trabalho para os legítimos.
Anna é uma dessas crianças e sabe muito bem o que tem que fazer da sua vida, respeitando todos os ideais que lhe foram transmitidos. Um dia chega a esse centro um rapaz que a procura e que vem revolucionar a sua maneira de encarar a vida. Estes tornam-se muito amigos e fogem do centro de excedentes com planos para no futuro ajudarem essas crianças.
É um livro muito bom e deixo o desafio à curiosidade de cada um, para lerem este livro. Transmite-nos uma grande lição, pois ensina-nos a aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer.
Recomendo
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