"Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morrer doido. Era uma vez."
Como podemos perceber pelas frases que citei da contracapa, este romance descreve a construção de um dos monumentos mais emblemáticos de Portugal, o Convento de Mafra. Tudo começa com a apresentação da relação Rei/Rainha enquanto casal. Tendo a rainha chegado à corte à dois anos e tendo o rei ido ao seu quarto duas vezes por semana, na tentativa de dar um herdeiro a coroa, saindo todas estas tentativas frustradas, chega um frade à corte com a mensagem de que os reais desejos podem ser concretizados se o Rei oferecer um grande convento em Mafra para albergar a ordem franciscana. Então o rei promete que se dali a um ano tivesse um filho mandaria construir o dito convento. Então, nasce a primeira filha, a princesa Maria Barbara e começa a construção do convento. Por essas alturas, durante um auto de fé, Blimunda, a filha de uma degredada conhece um homem, Baltasar, um antigo soldado de guerra que lá perdera a mão. Acabam por ir para casa de Blimunda, juntamente com Bartolomeu Lourenço, um padre que os acompanhava. Acabam por oficializar a sua relação de uma forma muito pouco ortodoxa. Num plano paralelo ao da sua relação, este casal dedica-se a ajudar o padre Bartolomeu na concretização do seu sonho, construir uma maquina com a qual pudesse voar. Entretanto, Baltasar e Blimunda dirigem-se a Mafra, terra natal de Baltasar enquanto Bartolomeu se dedicava ao estudo de mecanismos que fizessem voar a sua maquina. Dá-se aqui o relato do inicio das obras em Mafra, dos quais se destaca o lançamento da primeira pedra. Depois de o padre regressar, já conhecendo os fundamentos do voo, Blimunda e Baltasar regressam a Lisboa e, aproveitando-se dos estranhos poderes de Blimunda (conseguir ver por dentro das pessoas), Bartolomeu encarrega-a de recolher as vontades humanas que se libertassem dos corpos, pois eram estas as "peças" fundamentais para que a passarola voasse. Depois de tudo estar pronto, o Padre acaba por consentir em voar na maquina, não como modo de exibir a sua invenção, mas antes como uma tentativa de escapar às garras da inquisição que desconfiava de uma obra do demónio. Mas como a máquina só voava com a luz do dia, ao cair da noite aterraram no Monte Junto. Aí, o padre tenta incendiar a máquina e foge, nunca mais sendo visto. Mais tarde descobre-se que morrera louco em Espanha. Baltasar e Blimunda regressam a Mafra, onde Baltasar ajuda a construir o convento. Visitando regularmente a máquina, Baltasar vai reparando os estragos que são deixados pelo tempo. Na sua ultima visita, Baltasar escorrega num pouco de madeira podre e com o gancho que tinha no lugar de mão aciona o mecanismo que abria as velas e a maquina levanta voo. Depois de muito esperar inquieta, Blimunda acaba por sair à procura de Baltasar, mas ao chegar dá pela falta da máquina. A partir daí começa a busca de Blimunda, que acaba por durar nove anos. Num terceiro plano, temos ainda a construção do mosteiro, construção essa levada a cabo pelo povo, anónimo, como sempre, que trabalha para o único fim de satisfazer os caprichos e as vaidades do rei, que não quer morrer antes da obra estar terminada. Nesta parte, estão contidos muitos sacrifícios humanos, como a perda de vidas, outros trabalhos pesados e a separação de famílias. Daí, surge a explicação do autor para o nome Mafra: Mortos, Assados, Fundidos, Roubados e Arrastados.
A ação termina quando Blimunda encontra Baltasar, no mesmo sítio onde o conhecera, pronto para ser queimado na fogueira da inquisição.
Na minha opinião, o enrredo está muito bem construído, de modo a dar o privilégio aos verdadeiros heróis da história. No ínicio, o protagonista era o rei, que vai perdendo o prestígio à medida que o povo vai perdendo o anonimato.
E porque gosto de ler...
Recomendo!
Tudo começa quando um homem cega enquanto está parado no semáforo,em pleno trânsito. Depois de ser ajudado a chegar a casa por um desconhecido e de ter estado com a mulher, que o decide levar ao oftalmologista, apercebe-se que quem o ajudara lhe roubara o carro. Depois de o médico o ter observado, este continua a atender os outros pacientes que esperam. O médico apercebera-se da estranheza do caso do seu paciente, em que a cegueira, ao invés de se manifestar negra, aparece como branco como se só houvesse luz, que impedisse a visão, continua a pesquisar, comunicando as suas preocupações aos responsáveis da saúde no país. Passado um pouco percebe que também está cego e que esta cegueira é contagiosa, tentando afastar-se da mulher, como medida de precaução, coisa que esta recusa.
Entretanto, as autoridades, como modo de pararem o contágio, que já se manifestara também nos pacientes que o Médico havia tratado depois, nomeadamente, um velho com uma venda preta, que sofria de cataratas, uma prostituta, que usava óculos escuros e tinha conjuntivite e um menino estrábico, decidem isolar os contagiados em quarenta provisória, de modo a pararem o "mal branco", encerrando estes doentes num antigo manicómio. Mesmo sem ter cegado, a mulher do médico finge-se contagiada para poder ficar junto do marido. Assim, vai chegando cada vez mais gente ao antigo manicómio, notando-se a escassez de alimento, assim como a falta de cuidados e de higiene que só a mulher do médico podia viver. Assim se passam os dias neste alojamento de cegos, em que as pessoas se vão agrupando, consoante os sítios onde se estabeleciam para dormir. Desta forma, cada grupo vai fazendo por si e pela subsistência, uma vez que as necessidades básicas como alimentação, se vão fazendo sentir, começando tentar liderar no manicómio vendendo o pouco alimento que havia em troco de bens pessoais. Mais tarde, quando ninguém tem bens para trocar por comida, o grupo que lidera o manicómio, constituído exclusivamente por homens começa a exigir favores sexuais. Depois de as mulheres terem sido submetidas ao limite da dignidade humana, a mulher do médico revolta-se e mata o chefe do grupo, de modo a restituir um pouco mais de justiça àquele lugar, onde a própria justiça já era uma utopia. Mesmo assim, continuam sem o direito à comida e uma mulher decide pegar fogo à camarata onde estes estavam. Com o alastra do incêndio, os cegos vêm-se forçados a sair daquele lugar inóspito, não encontrando, para seu espanto, oposição à saída.
É neste momento que percebem o cúmulo de todo aquele cenário monstruoso. A rua, a cidade, tudo se tinha transformado num caos, onde cegos viviam na rua, que por sua vez se encontrava inundada de lixo e de dejetos, causados pela putrefação deixada pela falta de cuidados e higienização sofridos. Decidem então criar um grupo coeso, de modo a não se perderem e a poderem orientar-se com a ajuda da mulher do médico, até chegarem às suas casas. Este grupo é constituído pelo médico e a mulher, o primeiro cego e a mulher, o velho da venda preta, a rapariga dos óculos escuros e o menino estrábico.
Dirigem-se então à casa do médico, suficientemente espaçosa para albergar todos. Antes disso, a mulher do médico tinha procurado comida, entrando num supermercado, mas até aí toda a comida havia esgotado. Então lembra-se de ir ao armazém do supermercado e encontra a reserva de conservas que leva para alimentar o grupo que d certo modo sustenta. Quando mais tarde volta para buscar mais comida, percebe que o armazém fora descoberto por cegos famintos, estando preenchido por corpos mortos em avançado estado de decomposição. Ao regressar a casa para numa igreja onde todos os santos têm vendas nos olhos. Dando alerta de tal situação, as pessoas fogem daquele lugar desesperadas e aí, a mulher do médico consegue obter um pouco de comida. Depois de regressar a casa, todos jantam e ouvem a mulher do médico ler para poderem alimentar a alma. Passado um pouco, o primeiro cego deixa de "ver" tudo branco, e com os olhos fechados vê tudo preto. Pensando que contraíra a cegueira comum, manifesta-se, mas ao abrir os olhos percebe que já vê. Num ambiente de euforia, cada um recupera a esperança de voltar a ver. Depois de uma noite passada em claro e depois de o recuperar gradual da visão, esta torna-se numa realidade próxima. Então, as pessoas saem à rua para assistir aos brados de "Vejo!" e a mulher do médico olha para o céu vendo tudo branco, consciencializando-se que chegara a sua vez de cega. Invadida por uma vaga de medo, volta os olhos para baixo e apercebe-se que ainda vê.
É assim que termina este romance. Dotado de uma grade criatividade, o autor consegue usar a melhor metáfora para caracterizar a humanidade: a cegueira. Como é que não nos podemos considerar cegos? Os mais fortes não olham a meio para atingir os fins; as autoridades não vêem (ou fingem não ver) a forma como o pode é exercido; e os mais fracos não reparam nas formas como são comprados, deixando-se seduzir pelas vantagens a curto prazo. Como é que não somos cegos, pergunto-me mais uma vez. Como mote deste livro temos a citação "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." e a sabedoria popular diz-nos que "O pior cego é aquele que não quer ver" e assim fica nítido que somos realmente cegos. Com capacidades para olhar, ver e reparar, cegamos perante as pequenas coisas que existem, não mudamos em nada as nossas ações para que o mundo deixe de estar no estado caótico em que se encontra. Não digo que se viva o mesmo caos descrito no romance, mas antes um caos psicológico em que a nossa cegueira não nos deixa usar a lucidez para guiarmos as nossas vidas.
Como mensagem principal deste romance, acho que o autor pretendeu dizer para abrirmos os nossos olhos, não só numa visão egocentrista, mas sim para tudo o que nos rodeia. Porque um pequena passo, dado por uma grande sociedade, pode se traduzir na melhoria da qualidade de vida da humanidade.
E porque gosto de ler...
Recomendo!
A Profecia de Istambul é um livro cuja ação decorre maioritariamente durante o século XVI, o chamado Século de Ou
ro, em que a fusão de religiões e culturas promovem um confronto entre as forças do Bem e do Mal.
Desenvolvendo-se em torno da Lança de Destino, a qual perfurou o lado de Cristo aquando da sua crucificação, a obra começa quando a Lança é negligentemente perdida por um dos seus últimos possuidores, Roger de Flor, que a perde ao morrer numa batalha, durante o século XIV. De volta ao século XVI, deparamo-nos com três jovens, unidos por uma amizade fiel que os leva a fazerem um pacto de sangue, tornando-se irmãos. Durante o ritual, tomam conhecimento de um livro, o "Necronomicon"k, que se for possuido em conjunto com um outo objeto, o seu detentor pode guiar o destino da humanidade, tanto para bem como para mal. Separando-se no fim deste encontro, cada amigo segue o seu rumo, sendo que Jaime, o protagonista se separa também de Rosa, a rapariga por quem estava apaixonado.
E como o destino é um dos grandes agentes desta obra, Jaime acaba por reencontrar os seus dois amigos e a sua amada, por força de uma missão que têm que cumpir em Orão, de modo a stender os limites Cristãos em territórios árabes. Perseguidos desde Espanha, por ouvirem uma conversa onde era mencionada a Lança do Destino, Jaime e os ses amigos vêm-se torturados pela inquisição, mesmo em terras de África. Depois de serem derrotados numa das suas batalhas. Aí descobrem que têm a missão de recuperarem a Lança e de a restituirem ao seu devido lugar, sendo necessário Jaime renegar a sua religião e fazer-se "turco de profissão" para poder circular livre e discretamante no mundo árabe. De seguida, parte para Istambul, onde descobre novas informações acerca da missão que lhe cabe cumprir. Descobre a história associada à Lança e conhece Grácia Nasi, uma judia muito bem sucedida em Istambul que o vai informando acerca da Lança. É aqui que lhe explica a profecia, que dita que se a Inquisição tomar posse da Lança e de um livro, o "Necronomicon" os pode usar para provocar um holocausto, destinado à exterminação dos judeus. Além disso, a Lança era conhecida por dar grandes glórias aos seus possuídores durante a vida, mas no momento da mudança de possuidor, a possuidor anterior teria uma morte trágica. Depois de muitas desventuras, Jaime consegue finalmente recuperar a Lança e repô-la no seu devido lugar, regressando para junto de Rosa.
Ao ler este romance, e ao conhecer a profecia pensei: "Coitados dos Judeus, tinham medo de serem aniquilados pela inquisição se esta possuisse a Lança e nem sequer sabiam que mais tarde, mesmo sem a Lança estariam gravemente ameaçados". Mas estava muito enganda e é aqui que o autor remata em beleza, ao concluir no epílogo que Hitler, depois de ver a Lança num museu em Viena a achou de alguma forma mágica, mas que isso era provavelmente fruto da sua imaginação. Mas ao alcançar o poder e ao anexar a Áustria, Hitler toma posse de todas as coleções dos museus, incluindo a Lança. É aqui que se cumpre a profecia, dando-se o holocausto. Quando os EUA chegam à Alemanha para derrotarem Hitler, entram no esconderijo da Lança e levam-na. De modo a que a profecia ficar completa, o que é que faltava acontecer? A morte trágica de Hitler. E a História confirma este facto: Oitenta minutos depois de os Americanos invadirem o esconderijo de Hitler, este suicida-se consomando a História da Lança, que voltou a ser guardada.
É por estas razões, e porque gosto de ler que...
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O Bazar Alemão é um livro de Helena Marques que expressa os efeitos das políticas racistas alemãs em países e comunidades que à partida não estavam relacionados com a 2ª Guerra Mundial, como o caso de Portugal (país nulo) e, em particular da comunidade madeirense. Em vésperas da guerra, é decretada uma lei que tinha em vista a preservação da honra e do sangue alemão, chegando a abranger as leis relacionadas com o casamento, atingindo a comunidade judico-alemã que habitava na pacata cidade do Funchal. Nessa época, chegara a esta bela cidade um jovem alemão, Eugen, que recebera como guia e orientadora na ilha, a melhor amiga da filha do cônsul alemão, Elisabeth. Entre ambos estabeleceu-se desde o início uma relação de cumplicidade e confiança, sabendo que estavam destinados um ao outro. Ao mesmo tempo, desenvolvem-se outras histórias paralelas, como a de Mike, um jovem português que estudava em Londres, e Katherine, uma mulher independente e autónoma, de origem alemã, que se amam sem paixão. Dando nome ao romance, surge a história de Izaak e Miriam, um casal polaco que imigra para Portugal em busca de melhores condições de vida para si e os seus filhos, abrindo um negócio de venda de artigos de costura, entre outros, O BAZAR ALEMÃO, que os sustentava. Dá-se também a presença do amor entre Leonor e o Dr Franz. Como impedimento a todas estas relações, existe um estranho casal alemão, de convicções puramente racistas, os Bromberger, que tentaram por em prática as políticas de Hitler, impedindo o casamento de Eugen e Elisabeth e dificultando a vida ao casal polaco.
É um bom livro que mostra como algumas políticas conseguem transtornar a vida familiar e quotidiana de pessoas sem relação com essas políticas e a forma como se devem ultrapassar todos esses problemas.
É por estas razões e ... porque gosto de ler que ...
Livro retrata a sociedade portuguesa a partir da década de 40, tal e qual como as suas virtudes, os seus feitos e defeitos. Sendo esta uma altura muito conturbada para a população portuguesa, muitos habitantes começam a emigrar para França, sendo este um acontecimento marcante na ação.
Hoje, pretendo apresentar esta sugestão de leitura de uma forma diferente, em forma de receita. Pode ser que que alguém suficientemente guloso queira provar. Esta ideia surgiu no ãmbito de umj concurso, em que se teria de elaborar uma receita como forma de apresentar um livro. Como li este livro, gostei e participei no concurso, deixo agora a receita do mesmo.
Bolo Recheado de Letras
200g convite para uma exposição;
1 assistente de um curso de artes do 1º ano;
250g de aluna desse curso;
200g de juíza solitária;
1 colher de lendas homéricas;
1 dose de História de Portugal;
Uma pitada de amor;
350g de artes plásticas;
2 infâncias completamente diferentes;
1 gato;
1 gravidez não planeada;
1 reencontro;
1 morte inesperada;
300g de criatividade;
26 variedades diferentes de letras.
Apresentação do produto final: Disponha a massa sobre um tabuleiro em forma de sete colinas, com os rebordos dos quatro cantos do mundo, em camadas, com recheio de letras. Leve ao forno o tempo necessário. Sirva decorado com a criatividade e desfrute desta pequena maravilha.
Anatomia dos Mártires é uma história, contada na primeira pessoa, em que um jornalista é destacado para entrevistar o autor da biografia de um mártir religioso. Como o seu editor era comunista e um dos seus ídolos era Catarina Eufémia (militante deste partido), o jornalista, ao escrever o seu artigo, faz uma analogia com a história desta personagem envolta em mitos. Assim, surpreendeu o seu editor, que defendeu o seu artigo publicamente e que depois de fazer esta defesa aparece em coma. Assim, o jornalista pensa que a culpa de o editor estar às portas da morte é sua e decide explorar a história desta suposta mártir.
Além de enriquecermos o nosso vocabulário com este livro, também ficamos a conhecer a lenda de uma das personagens mais marcantes da nossa história.
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